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A comunidade Nikkei em Uberlândia: dispersa ou desinteressada?

Nasci em São Gotardo, uma cidade brasileira que fica no interior de Minas Gerais, e que ainda há uma grande presença de descendentes de japoneses. E é um município em referência nacional na produção de cenoura, batata e alho. Dentre esses produtores a maioria são nikkeis que trouxeram contribuições e diversificaram as atividades no campo, como também gerou muitos empregos nessa região.

Lembro-me que havia um nihonjinkai e até hoje está ativo que apresentava festivais como o Undokai e Hana Matsuri, em que as famílias de imigrantes japoneses se reuniam. Lembro que havia também o campeonato de beisebol, Softball e o nihongakkō, onde meus dois irmãos mais velhos estudaram, conciliando com a escola regular. Inclusive o time de beisebol de São Gotardo foi participar de um campeonato sul-americano no Chile, acredito que ganhou, pois todos voltaram felizes para casa.

Eu me mudei de São Gotardo muito nova, por volta dos cinco anos, mas me lembro que a comunidade nipônica de lá era muito forte, com influência no que se referia a esportes e cultura. Inclusive na política da cidade, sendo que dois ex-prefeitos são nikkeis.

Minha família mudou-se para Uberlândia, onde ainda não havia nenhum kaikan. Meus pais, juntamente com outras famílias de descendentes de japoneses, começaram a se reunir nos finais de semanas, para conversar, jogar Gētobōru, cantar no karaokê e comer comidas típicas japonesas.

Meu pai cantando no karaokê nos meados dos anos 2000. Fonte: Acervo pessoal. 

Com o tempo oficializaram o kaikan e passou a se chamar Aniudi (Associação Nikkei de Uberlândia). Nessa associação ofereciam aulas de japonês, na qual eu estudei por quatro anos com o Takeshi Sensei. Uma vez no mês realizava-se um festival de yakisoba e uma feira gastronômica que reuniam no Mercado Municipal comidas nacionais e internacionais, além disso, os associados jogavam Gētobōru e Softball.

Houve uma época que a Prefeitura de Uberlândia cedeu um campo para jogar Softball e além de descendentes de japoneses iam muitos estudantes universitários não descendentes treinar também. O time de Uberlândia participou de torneios nacionais. Mas depois de um tempo a Prefeitura tomou o campo e cedeu outro espaço, mas era longe e com isso muitas pessoas desistiram. Já o campo de Gētobōru  era no terreno de um dos nikkeis que participavam no kaikan. Era um campo particular e se juntavam várias pessoas para jogar, principalmente os mais velhos que eram muito assíduos.

Essa associação suspendeu suas atividades por volta de 2011, alguns membros mais velhos já faleceram, outros se mudaram. Atualmente as famílias de descendentes de japoneses estão dispersas, não possuem interesse em confraternizar e manter laços profundos com outros nikkeis.

Há algumas pessoas de Uberlândia que se deslocam até a cidade de Araguari onde existe uma kaikan, lá eles se reúnem e jogam Yakyuu e Gētobōru. Eles participam de campeonatos regionais e eu lembro que fui algumas vezes nesta associação. Há também alguns nikkeis uberlandenses que participam da Seicho-No-Ie que é uma filosofia de vida japonesa.

Existem outras pessoas que se deslocam até Caldas Novas, que fica no Estado de Goiás, por volta de 174km de distância de Uberlândia. Nesta cidade goiana há um hotel fundado por nikkeis e que oferecem eventos voltados para a colônia japonesa. Neste estabelecimento proporciona torneios de Yakyuu, Gētobōru e também de Tênis, eu fui apenas uma vez neste hotel e na data em específico não estava ocorrendo nenhum evento desse tipo, mas achei interessante que o buffet havia várias comidas típicas japonesas.

Outras cidades, fora de Minas Gerais, que os nikkeis da minha cidade vão para participar em eventos de nihonjinkais são Goiânia, Guaíra e Fernandópolis, que são municípios num raio de até 400km de Uberlândia. Nestas localidades nunca tive a oportunidade de visitar, mas sei que são comunidades que os participantes interagem e desenvolvem bastantes atividades em prol da colônia japonesa.

Outra organização que nunca fui, mas sei que há um grupo nipo-brasileiro que bem é atuante, fica na cidade de Belo Horizonte na capital de Minas Gerais. Neste kaikan possuem atividades culturais e artísticas, como o Taiko, a dança tradicional Odori e o Kendo. No Estado do Mato Grosso do Sul, já fui para Campo Grande, aonde a família da minha mãe mora. Lá a comunidade nipônica é bem presente, para se ter noção o Soba é um prato típico que virou patrimônio histórico e cultural, em 2006.

Dentre as comunidades de nikkeis de Minas Gerais que conheço, acho que São Gotardo é um dos grupos mais atuantes e influentes, em que os seus representantes são da segunda, terceira e até quarta geração dos nikkeis que começaram. Logo, mantiveram vivas as tradições. Acredito que aqui em Uberlândia, como é a segunda maior cidade do Estado de Minas Gerais, as pessoas sejam mais ocupadas, os horários não batem, dependendo da localidade que moram é longe ou pode ser que falte esse espírito de liderança e estejam desinteressados.

Existe um grupo no WhatsApp para a comunidade nipônica uberlandense com aproximadamente 147 participantes, dentre cônjuges, nihonjins e descendentes de japoneses. Contudo divulgam basicamente restaurantes japoneses da cidade. No começo do grupo, entre 2018 e 2019, fizeram três encontros em diferentes restaurantes japoneses. Alguns participantes tinham acabado de voltar do Japão e sentiam a necessidade de se reunirem e compartilhar histórias. Mas infelizmente ficou apenas nisso.

É uma pena, muito antes do tempo de pandemia, já ocorria o distanciamento social. Espero que apesar de tudo, possamos preservar a cultura japonesa e, sobretudo, os valores nipônicos na nossa região e para as futuras gerações.

© 2022 Meiry Mayumi Onohara

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About the Author

Meiry Mayumi Onohara formou-se em Letras e em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Uberlândia; é mestranda em Ciências Contábeis pela mesma universidade. É nissei do lado paterno e sansei do lado materno. Seu pai é de Saga-ken e a família de sua mãe veio de Kobe. Já foi professora de Língua Portuguesa, mas hoje gerencia a empresa da família.

Atualizado em maio de 2022

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