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Futon, shoyu e muito mais: palavras japonesas incorporadas ao vocabulário do Brasil

É comum, no Brasil, o descendente de japonês misturar a língua portuguesa com a língua japonesa, popularmente chamado de batianês (ばあちゃん + Português) ou dekasseguês ou koronia-go ou até mesmo nissei-go. Em suma, esses termos se referem a uma variante de uma língua com interferência de outra, numa espécie de empréstimo lexical. Como por exemplo:“Gomen, hoje estou isogashii!” ou até mesmo fazer alterações estruturais nos aspectos morfossintáticos, como em: “Okāsan, preciso de um onegaizão”. Assim, surgem novas palavras formadas a partir de um processo de derivação ou de composição.

Mas essas expressões, geralmente, estão mais restritas aos nikkeis, visto que a influência contínua e mútua entre esses dois idiomas conseguiu criar um sistema linguístico único e com características próprias. Além de que se via a necessidade de misturar as duas línguas para facilitar a compreensão entre os imigrantes japoneses da primeira geração e seus descendentes.

Contudo há palavras de origem japonesa que foram incorporadas ao vocabulário do Brasil que todos compreendem, como por exemplo, o biombo que vem do japonês byōbu (屏風) que significa “proteção ao vento”.

Outros exemplos que os brasileiros utilizam no cotidiano são: futon (布団), bonsai (盆栽), karaokê (カラオケ), tatame (たため), kamikaze (神風), yakuza (やくざ), sudoku (数独), tsunami (津波), ofurô (お風呂), otaku (おたく), issei (一世), nissei (二世), sansei (三世), yonsei (四世), samurai (侍), ninja (忍者), zen (禅), origami (折り紙), emoji (絵文字), hikikomori (引きこもり), shamisen (三味線), anime (アニメ), keiretsu (系列) e kaizen (改善). 

Há muitos termos que se referem a um método terapêutico ou esporte provindos do Japão, como: shiatsu (指圧), kendô (剣道), jiu-jitsu (柔術), judô (柔道), karatê (空手), aikidô (合気道), dojō (道場), sensei (先生) e sumô (相撲). Outros vocábulos que os brasileiros usualmente usam têm a ver com comidas japonesas, como: wasabi (山葵), moyashi (もやし), hashi (箸), shoyu (醤油), yakisoba (焼きそば), missô (味噌), onigiri (おにぎり), missoshiru (味噌汁), harumaki (春巻き), teriyaki (照り焼き), tofu (豆腐) e shiitake (しいたけ).

Algumas palavras já apresentam a grafia aportuguesada, isto é, a forma de escrita adaptada para o português, como em: quimono (着物), caratê (空手), aiquidô  (合気道), cabotiá (かぼちゃ), caqui (柿), jokenpô (じゃんけんぽん), riquixá (力車), haicai (俳諧), saquê (日本酒), mangá (漫画), lámen (ラーメン) e haraquiri (腹切り).

A palavra Sayonara (さよなら) que no japonês significa tchau ou adeus, no Brasil há 7.466 pessoas registradas com esse nome, tendo outras variações como Saionara, conforme censo do IBGE de 2010. Ademais é um nome exclusivamente feminino.

Apesar de o Brasil ter bastantes palavras de origem japonesa no vocabulário, o contrário também se aplica, há palavras japonesas que possuem a origem da língua portuguesa, uma vez que Portugal foi um dos primeiros países da Europa a entrar em contato com o Japão, no século XVI, a fim de estabelecerem uma relação comercial entre os dois países e de propagarem o Cristianismo no Japão.

 Portanto há algumas palavras de origem da língua portuguesa e que os japoneses utilizam que se referem à religião, como: クロス (kurosu; cruz), キリスト (Kirisuto, Cristo) e 天ぷら (tenpura; tempurá) que conforme a tradição católica, durante a quaresma não é recomendado consumir carne vermelha e o tempurá de legumes e frutos do mar passou a ser uma opção de alimentação para os missionários portugueses.

Assim como o tempurá, há também muitos termos que se referem a comida, como por exemplo: パン (pan; pão), コンペイトウ (Konpeitō; confeito), カステラ (Kasutera; Castella), ボーロ (bōro; bolo), アルコール (arukōru; álcool) e マルメロ (marumero; marmelo).

Outras palavras que os japoneses utilizam no dia-a-dia e que possuem a origem na língua portuguesa são: イギリス (Igirisu; Inglaterra), ビードロ (bīdoro; vidro), フラスコ (furasuko; frasco), コップ (koppu; copo), タバコ (tabako; tabaco), ビロード (birōdo; veludo), ボタン (botan; botão), キャプテン (kyaputen; capitão), かるた (karuta; carta) e ブランコ (buranko; balanço).

Uma curiosidade que não tem a ver com o vocábulo, mas que tem relação com o intercâmbio cultural entre a cultura brasileira e a japonesa é que os famosos chinelos brasileiros, as Havaianas, foram inspirados no Zori (草履), os chinelos japoneses que eram feitos de palha de arroz.

O chinelo japonês Zori serviu de inspiração para o chinelo brasileiro Havaianas. (Fonte: skdesu.com)

Um outro fato curioso é que a soja foi introduzida no Brasil por meio dos imigrantes japoneses, por volta de 1908 e, é uma palavra que vem de 醤油 (shōyu). O interessante é que no espanhol, a palavra soja é soya e no inglês é soy, lembrando um pouco a grafia da palavra japonesa.

De modo geral, a língua portuguesa e a língua japonesa conseguiram estabelecer pontes entre si não só nos idiomas, mas também associa as culturas bem diferentes e afastadas geograficamente. E isso resulta de uma convivência amistosa entre brasileiros e japoneses.

 

© 2023 Meiry Mayumi Onohara

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About the Author

Meiry Mayumi Onohara formou-se em Letras e em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Uberlândia; é mestranda em Ciências Contábeis pela mesma universidade. É nissei do lado paterno e sansei do lado materno. Seu pai é de Saga-ken e a família de sua mãe veio de Kobe. Já foi professora de Língua Portuguesa, mas hoje gerencia a empresa da família.

Atualizado em maio de 2022

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