Ritsumeikan PPC irá promover estudos sobre a imigração entre o Peru e o Japão
O Centro de Pesquisa sobre as Civilizações da Costa do Pacífico é formado por uma equipe multidisciplinar de arqueólogos, historiadores e profissionais que analisam questões ambientais, econômicas e políticas, e os quais irão ajudar a encaixar as peças de um grande quebra-cabeça. Por meio deste e de outros centros, os pesquisadores têm a oportunidade de interagir com outros pesquisadores para partilhar descobertas semelhantes ou visões distintas sobre o mesmo tema.
A diáspora é um dos temas de pesquisa de Daniel, e se vê relacionada à resiliência, termo que ganhou relevância recentemente. “A resiliência se refere à forma como as populações enfrentam determinados problemas e como os superam e se adaptam, conseguindo se manter ao longo do tempo. A migração entre o Peru e o Japão reflete essas características”, explica Daniel.
Com base nessa ideia, a equipe propôs ao Ritsumeikan PPC a formação de um grupo de pesquisa e a organização de uma série de eventos em conjunto com a universidade peruana PUCP e o Instituto Riva-Agüero (IRA) – o único instituto da PUCP que conta com um grupo de pesquisa focado em temas relacionados ao Japão e à imigração japonesa.
Categorias na universidade
No campo acadêmico, “tenured” quer dizer “manutenção do cargo” e é um privilégio reservado apenas para aqueles professores que demonstraram suficiente mérito acadêmico.
As universidades classificam os seus professores em diferentes categorias, explica Daniel. O professor de meio expediente leciona por determinadas horas na universidade. O professor titular trabalha em tempo integral, mas dá apenas algumas aulas específicas e não tem uma carga administrativa. O professor adjunto trabalha em tempo integral e auxilia os professores titulares.
O professor “tenured” tem contrato permanente até se aposentar, e nessa categoria se encontram o professor associado e o titular, sendo este último o cargo mais elevado e mais raro. O professor associado é responsável pelos alunos de mestrado; o professor titular é responsável pelos alunos de mestrado e doutorado. O primeiro se aposenta aos 60 anos e o segundo aos 65 anos. Em termos de salários e encargos administrativos, quase não há diferença entre eles.
Apesar de se encontrar na categoria de professor associado e não de professor titular, Daniel leciona para estudantes de doutorado, já que o número de professores titulares na universidade na faculdade é escasso. Esta exceção é obtida com uma licença processada pela mesma universidade ao Ministério da Educação do Japão.
Contratos de convênios
Daniel era a pessoa certa para concretizar os projetos de cooperação. Dos cinco professores da categoria “Tenured” da Ritsumeikan, Daniel é o único falante nativo de espanhol e os seus temas de pesquisa se enquadram na linha de pesquisa dos convênios firmados entre a Ritsumeikan e o seu centro de pesquisa.
“A ideia é criar dois grandes eixos, um no Japão e outro no Peru, que reúnam pesquisadores trabalhando em temas relacionados à imigração, não importando as suas áreas de especialização. O objetivo é formar uma equipe multidisciplinar de pesquisadores”, ele explica.
Para facilitar o intercâmbio entre pesquisadores do Peru e do Japão e organizar eventos em conjunto, como o primeiro simpósio internacional apresentado pela Ritsumeikan e o IRA em 2023 em Lima, no Peru, a equipe está solicitando à Universidade Ritsumeikan um fundo de pesquisa para cobrir um período de dois anos. Para levar este projeto adiante e torná-lo mais acadêmico, a equipe também planeja pedir fundos adicionais ao IRA e ao governo do Japão.
“Apesar do Museu da Imigração Japonesa ao Peru ter um grande repositório de pesquisas, ele ainda não conta com uma equipe de pesquisadores e nós pretendemos preencher essa lacuna”, afirma Daniel.
Que objetivos ele espera atingir no futuro com estes tipos de intercâmbios?
“A maior parte dos estudos sobre a diáspora japonesa é realizada por pesquisadores individuais, o que impede a abordagem de vários aspectos da imigração entre o Peru e o Japão”, ele explica. “Por isso, existe o risco de se perder linhas e doutrinas de pesquisa se o pesquisador morrer ou se aposentar sem deixar discípulos”. Ele ressalta que o objetivo fundamental desses intercâmbios é a criação de escolas de pesquisa no Peru e no Japão, ao invés de existirem apenas pesquisadores individuais.
Como exemplo, Daniel cita os estudos sobre a migração japonesa ao Peru, os quais até o momento se vêem focados em temas específicos, como a história ou a literatura, dependendo da especialidade do pesquisador.
Daniel explica o processo: “nós poderemos compilar entrevistas se abordarmos o tema através de uma perspectiva antropológica; poderemos analisar o tema por meio de documentos ou manuscritos através de uma perspectiva histórica; ou [poderemos analisar o tema] através de objetos se aplicarmos uma perspectiva arqueológica. Se abordarmos as principais questões como um corpus único e daí tentarmos entendê-las, poderemos responder a essa pergunta: ‘Quando é que os japoneses deixam de ser japoneses e se tornam nikkeis?’”
Aplicando esse enfoque multidisciplinar e em colaboração com Patricia Chirinos Ogata, também Doutora em Antropologia e Arqueologia (PhD), Daniel já apresentou um esboço de como podemos ver a migração nikkei no Peru através da arqueologia em um artigo publicado na Historical Archaeology, uma revista de grande impacto acadêmico.
O know-how da arqueologia japonesa aplicado no Peru
Para finalizar este artigo, Daniel compartilhou um comentário sobre a arqueologia japonesa e o patrimônio peruano.
O Japão tem uma visão do mundo como parte da sua comunidade e essa visão é tão extensa que não se limita apenas a estudar o Japão, ele diz. Com esta visão tão abrangente, o Japão tem outra perspectiva sobre como nós [peruanos] deveríamos gerenciar o nosso patrimônio e, segundo as experiências do próprio Daniel, o Japão tem influenciado várias gerações de arqueólogos no Peru, tanto nas técnicas arqueológicas como na interação com as pessoas.
Ele ainda destaca que os pesquisadores japoneses que vêm ao Peru trazem consigo o know-how da arqueologia japonesa. Daniel ressalta que a boa gestão dos sítios arqueológicos no Japão envolve uma maior participação civil, tecnologia e, ao contrário do que se acredita, ela não é completamente dependente do governo. Sabendo disso, podemos administrar melhor o nosso patrimônio?
45° Congresso da Sociedade Japonesa de Estudos Latino-Americanos (AJEL)
Representando a Universidade Ritsumeikan, Daniel participou do 45º Congresso da Sociedade Japonesa de Estudos Latino-Americanos (AJEL) em maio deste ano, onde junto com outros dois pesquisadores da Universidade Ritsumeikan falou sobre Nikkei e possíveis novas linhas de pesquisa. Este evento foi apresentado na Universidade Keio, no Japão, entre os dias 25 e 26 de maio deste ano.
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