O sobrenome DOI em português significa itai, itamu, isto é, “dói”, “doer”.
Tive um amigo que se chamava KUMEO. Aliás, existem muitos nomes e sobrenomes japoneses que começam com KU, por exemplo, KUBOTA, KUJIKEN, que são motivo de chacota, pois é sabido que existe uma palavra de baixo calão que é justamente a sílaba KU.
Os brasileiros até fizeram uma lista enorme de nomes e sobrenomes que viraram piada, se abrasileirar a pronúncia.
Como eu vivi na cidade mais japonesa do Brasil, Bastos, tinha pensamentos japoneses e não me causava espanto nem tinha reação de riso ao ouvir tais nomes.
Mas, hoje, morando numa metrópole como São Paulo e convivendo com mentes brasileiras, penso que o nome desse amigo poderia ser constrangedor pelo significado em português. Ainda bem que o sobrenome dele não é DOI, pois se fosse, seria verdadeiramente catastrófico.
Os imigrantes recém-chegados ao Brasil eram direcionados aos inspetores do governo local para registro ou cadastro. O problema começava aí, porque os japoneses não fazem distinção entre o som SI e SHI. Então, por exemplo, o nome japonês SHIN e a resposta positiva em português SIM se confundiam e isso deixava os inspetores bastante irritados. Houve um moço que foi parar na cadeia por desacato à autoridade. Ele simplesmente disse o nome dele alto e bom som: DOI BUNTA. Para quem só entende o português, ele afirmou que suas nádegas doíam...
O nome de uma de minhas irmãs é MITSUE, mas como os brasileiros desconhecem o som TSU, esse nome é pronunciado MI-TU-SSU-E. Como a palavra “tsunami” que é conhecida mundialmente e que muito repórter de TV fala “ti-ssu-na-mi”.
Mesmo com a globalização, ainda existem sons que são difíceis de pronunciar.
O meu sobrenome de solteira é IWAHARA e, dependendo do cartório, ele foi registrado de maneiras diferentes. Assim, tenho um irmão que é IUAHARA e outro é YWAHARA. Desse modo, meus sobrinhos e sua descendência levam sobrenomes escritos de formas diferentes, mesmo sendo da mesma raiz familiar. Há quem fale: “Eu sou IWAHARA”, outros “Eu sou IUAHARA” e mais outros “Eu sou YWAHARA”. Felizmente o ideograma (kanji) é o mesmo 「岩原」.
Diante disso, vejo e considero a importância dos ideogramas nos nomes e sobrenomes nikkeis. Creio que no Japão, ao pesquisar o nome através dos kanji, não teria essa dificuldade em encontrar a sua ascendência.
Houve uma época no Brasil em que as letras W – Y – K não eram usadas. Os nomes registrados em cartório eram escritos sem essas letras. Por exemplo, o nome de minha sobrinha é IOCO IUAHARA, que na verdade deveria ser YOKO IWAHARA.
Outra questão são os nomes femininos japoneses terminados em “O”. No Brasil, deduz-se que é nome de homem. Assim, na repartição pública a funcionária anuncia: senhor KAYOKO, senhor MIOCO. O mesmo ocorre quando escrevem o nome do destinatário no envelope como Sr. MITICO, por exemplo.
E os nomes masculinos japoneses terminados em “A” são confundidos com nome de mulher. Assim: senhora KATUYA, dona YUTAKA.
Em ambos os caso, é bastante constrangedor para quem tem tais nomes no Brasil.
O meu nome TOMENO jamais foi confundido com nome masculino porque é antecedido de ROSA. Se não, eu seria chamada de senhor TOMENO.
© 2014 Rosa Tomeno Takada