Descubra Nikkei

https://www.discovernikkei.org/pt/journal/2023/11/14/tanabata-matsuri/

No Tanabata Matsuri ouvi um chamado

Don do kon ko don do kon ko do ko do ko su ko su ko don. As batidas do taiko me acordaram do sono de afastamento cultural.

Sem muita noção da presença da comunidade nikkei na minha cidade, certo dia, por acaso fiquei sabendo de um evento que teria em uma praça do centro e, casualmente, combinei de encontrar uma amiga por lá – mal sabia eu que seria esse o Tanabata Matsuri que mudaria tudo. Comi takoyaki e taiyaki, comprei origami, me diverti, mas o que me marcou de fato foi a sensação do meu coração batendo no ritmo do taiko.

Logo depois acabei indo viajar e saí completamente da rotina, reencontrei pessoas queridas, conheci novos lugares, novos sabores e voltei cheia de histórias.…

Mas quando retornei, era no taiko que a minha cabeça estava. Sem conhecer pessoa alguma que pudesse me informar, perguntei para o Google, achei o contato do grupo da cidade e mandei uma mensagem. Pode não parecer grande coisa, mas as vozes muitas vezes altas na minha cabeça que me diziam que eu não era japonesa o suficiente ou musical o suficiente para isso, foram abafadas pelo chamado forte que eu senti. Poucos dias depois, no precioso horário de domingo de manhã, eu e minha mãe estávamos pulando, agachando e alongando para começar o primeiro de muitos treinos.

Meu contato mais próximo com a comunidade japonesa até então tinha sido durante a minha infância, através da Associação Botucatuense de Cultura Japonesa. Minha mãe se esforçou para me colocar e me manter no nihon gakko, enquanto eu, tão pequena e cheia de vontades, insistia: “Eu não quero aprender japonês, eu quero aprender inglês!”.

A determinação da minha mãe me rendeu boas memórias de eventos como almoços coletivos, as festas das nações da cidade, músicas e aquele undokai que até hoje lembro da minha avó contando como ganhara a corrida do ovo na colher quando ela era criança.

Porém, apesar de todo o esforço, eu ainda me sentia à parte naquele ambiente. Aquelas não eram as crianças que eu via na escola todos os dias e nem as famílias que eu conhecia a casa. No fim, a influência cultural, intelectual e social profundamente europeia e branca na qual eu era imersa foi o que prevaleceu.

A distância aumentou quando nos mudamos para o sul e imergimos em um contexto tão fortemente gaúcho. Na festa junina nos vestíamos de prenda e bombacha, tomávamos chimarrão e cantávamos tertúlia. Lembro-me de uma vez ver na rua um jovem nikkeie pensar: “Nossa, o que será que ele está fazendo aqui?”.

Depois de anos de afastamento e tentativas isoladas de reaproximação nos anos seguintes, foi esse Tanabata Matsuri que me inseriu verdadeiramente de volta na comunidade.

O primeiro treino de taiko foi um banho de informações e de suor – fui pela música e saí com a academia do mês paga. Mais do que o exercício corporal, tínhamos tantas novidades para processar que era desconcertante. Nomes de pessoas, de instrumentos, de músicas… o que é do e o que é ko? Mas a cada domingo o desconhecido foi se transformando em familiar e o carinho do grupo foi dissolvendo aquele sentimento crônico de não pertencimento. Alguns meses depois, eu entrei no grupo de bon odori e matsuri dance e conheci uma nova parte da comunidade.

Depois de um ano, esses dois grupos, o Shimadaiko e o Ikiru Yorokobi, são parte fundamental do meu dia a dia; não imagino minha semana sem os encontros, nem a minha vida sem as amizades que fiz. Além do aspecto social, esse reencontro com a comunidade também revolucionou o meu olhar para diversos outros aspectos da vida. A literatura que busco, a música que escuto no ônibus, a roupa que eu visto, tudo ganhou um novo sentido, juntamente com a redescoberta da história da imigração, do entendimento da minha identidade racial, dos laços que formei com essas pessoas.

No Tanabata Matsuri seguinte, minha participação foi completamente diferente da anterior: ao invés de ficar sabendo por acaso, eu conhecia a organização, ajudei na divulgação do evento, participei da abertura como a princesa Orihime, dancei bon odori, vendi onigiri e o som do taiko que ressoou no meu coração foi o que eu mesma estava tocando. Durante a festa, entre risos, abraços, yakisoba e tempurá, olhei nos olhos não mais de estranhos, mas de amigos, pertencentes, assim como eu, de um mesmo coletivo.

Sigo cada vez mais desperta e envolvida com a minha comunidade, compondo um presente frutífero e sonhando com o futuro brilhante, principalmente após a oportunidade que o nosso kaikan, a Associação Nipo-Catarinense me proporcionou: o encontro Revi de seinenkais promovido pelo Bunkyo, que despertou em nós o desejo e a força para a criação de um seinenkai que permita alcançar e aproximar ainda mais jovens. Sou muito grata a todos, pessoas e entidades, que possibilitaram que uma nikkei de quarta geração tivesse tantas oportunidades de conexão social e cultural na nossa querida Ilha da Magia.

 

© 2023 Isabella Ikeda Leite

Brasil tambor festivais identidade matsuri taiko
Sobre esta série

Nuestro tema para la 12.° edición de Crónicas Nikkei —Creciendo como Nikkei: Conectando con nuestra Herencia— pidió a los participantes que reflexionaran sobre diversas preguntas, tales como: ¿a qué tipo de eventos de la comunidad nikkei has asistido?,¿qué tipo de historias de infancia tienes sobre la comida nikkei?, ¿cómo aprendiste japonés cuando eras niño?

Descubra a los Nikkei aceptó artículos desde junio a octubre del 2023 y la votaciónde las historias favoritas cerró el 30 de noviembre del 2023. Hemos recibido 14 historias (7 en inglés, 3 en español, 5 en portugués y 0 en japonés), provenientes de Brasil, Perú y los Estados Unidos, con uno presentado en varios idiomas.

¡Muchas gracias a todos los que enviaron sus historias para la serie Creciendo como Nikkei!

Hemos pedido a nuestro comité editorial que seleccionara sus historias favoritas. Nuestra comunidad Nima-kai también votó por las historias que disfrutaron. ¡Aquí están sus elegidas!

(*Estamos em processo de tradução das histórias selecionadas.

 

A Favorita do Comitê Editorial


Escolha do Nima-kai:

Para maiores informações sobre este projeto literário >> 


*Esta série é apresentado em parceria com:

     

 

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Design do logotipo: Jay Horinouchi

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About the Author

Isabella Ikeda Leite é estudante de Letras Português na UFSC e nikkei de quarta geração pelo lado materno. Mineira de nascimento e criada no interior de São Paulo, reside atualmente em Florianópolis/SC, onde atua nas atividades da Associação Nipo-Catarinense. Em seu tempo livre, gosta de ler, cozinhar e jogar RPG.

Atualizado em novembro de 2023

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