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Capítulo 10: Memórias do meu intercâmbio em Fukuoka

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Em casa, no Brasil, nós sempre usamos o português e na adolescência, freqüentei aulas de japonês porque meus pais queriam, mas sinceramente eu não dava tanta importância. Depois de interromper as aulas, também não usei mais a língua japonesa e esqueci muito do que aprendi. É claro que hoje, sou grata pelo esforço dos meus pais e por terem tido essa preocupação comigo. Tem coisas que só percebemos com o tempo e maturidade.

Sou nikkei de terceira geração e meus avós maternos nasceram e viveram parte de suas vidas na província de Fukuoka, por isso pude ser contemplada com uma bolsa de estudos para conhecer a cidade de origem de minha família. Antes de decidir ir para o Japão como estudante de intercâmbio, eu tinha alguns receios, já que estava no início de minha carreira. Depois de conversar com muitos amigos e pessoas mais experientes que eu, decidi ir para o Japão, pois percebi que esta oportunidade de aprender sobre o país e sobre a terra em que meus avós nasceram poderia não aparecer novamente.

Pouco tempo antes de viajar, eu estava preocupada, achando que seria incapaz de comunicar-me com os japoneses ou entender, por exemplo, o que seria dito em sala de aula. Quando cheguei no Japão, não conseguia responder a muitas perguntas e isso me deixava triste, mas ao mesmo tempo incentivava-me para aprender mais. Como a língua torna-se necessária para quase tudo o que você faz, tanto a leitura como a conversação, você se vê sem alternativas a não ser aprender e com o tempo e interesse, passa a assimilar naturalmente, sem perceber. Passados 6 meses no Japão, eu me questionava  “Com 6 meses, parece que não evoluí nada, ainda não sei falar japonês”, mas na verdade, esquecia dos primeiros dias no Japão, quando precisava ouvir com muita atenção ao que me falavam e mesmo assim não entendia muitas das palavras. Quando eu pedia para a pessoa explicar de novo, eu continuava sem entender. Que desespero e decepção comigo! Mas agora, mesmo sem entender tudo o que me falam e sem saber falar tudo, não tenho mais essa sensação. Posso perguntar de novo o que não entendi, até que me expliquem com palavras que façam parte do meu vocabulário. Se conselho fosse bom, com certeza não seria dado e sim vendido, mas se você pensa em ir ao Japão, estude japonês, um pouco por dia, o quanto puder, que já será de grande ajuda.

As aulas de japonês que freqüentei ajudaram-me a aprender novas palavras, gramática e kanjis . Com um pouco mais de segurança em gramática básica, você passa a melhorar sua conversação também. Eu gostava muito de aprender línguas estrangeiras, como inglês e espanhol, além de estudar sobre minha pesquisa.

Aula de japonês, com participação de alguns universitários japoneses.

No começo das aulas, sentia-me frustrada porque havia muitos termos técnicos e difíceis usados na sala de aula. Procurava as palavras no dicionário, mas como são muitos kanjis e palavras novas, eu sempre esquecia. Em uma próxima aula, lá estava eu procurando a mesma palavra de novo. Eu ficava triste por ter memória tão ruim. Porém, comecei a entender que procurar várias vezes uma mesma palavra no dicionário, significava parte do estudo e ajudava na memorização. É preciso paciência, confesso que nem sempre eu tive esse dom em 100% do tempo. Saber que tantas repetições surtiram um efeito bom, alegravam-me.

Em junho, fui conhecer um grupo de estudantes que treina badminton , para que eu pudesse praticar meu japonês e conhecer mais sobre a vida dos estudantes japoneses. Eles foram bastante simpáticos comigo, no entanto, optei por não participar porque eram treinos intensos e eles participavam de campeonatos, utilizando-se das férias para viajar às competições. Fiquei bastante impressionada com o nível dos treinos e da habilidade deles. Esse tipo de atividade é bem comum entre os universitários japoneses. Há uma boa diversidade de grupos que se reúnem por terem algum interesse em comum, não só esportes, mas também hobbies .

O campus em que estudei era novo e mais edifícios iam sendo construídos rapidamente. Fiquei surpresa com a velocidade das construções e também feliz de estudar em um campus novo e moderno, que tinha até um ginásio bem equipado e uma academia.

Quadras da Universidade de Kyushu.

Quando eu não estava nas aulas de Engenharia de Software, ficava no laboratório ou na biblioteca fazendo lições, estudando japonês e também os temas relacionados com a minha pesquisa sobre normas internacionais de qualidade de software. Estudei um pouco sobre a importância desse assunto para algumas empresas japonesas de tecnologia e o seu interesse no conceito de qualidade.

O tempo gasto no alojamento onde morei, também foi uma grande parte da minha experiência. Não significava só um local para moradia, mas também um lugar para conhecer pessoas de todo o mundo e criar memórias que durarão por toda a vida.

Meu ano no Japão como estudante de intercâmbio foi uma experiência surpreendente e sempre relembrarei com carinho as experiências e as pessoas que conheci. Foi muito bom morar em uma cidade tão amigável. Fukuoka é um lugar agradável para morar. Sentirei falta de sua culinária, seus pontos turísticos, as pessoas gentis. Depois de morar em Fukuoka, o modo de vida e a cultura dessa região tornaram-se especiais para mim. Acho que meus avós sentiam falta de Fukuoka quando vieram para o Brasil!

Experiência com quimono.

Minha mãe faleceu de câncer há um tempo. Ela esteve no país,  gostou muito e desejava retornar um dia. Pensei que se eu fosse para o Japão de novo, ainda mais como estudante, ela ficaria muito feliz e orgulhosa, onde estivesse. Durante todas as experiências no Japão, acredito que ela esteve presente e compartilhou comigo os momentos de alegrias, de novas descobertas, de tristezas e de dúvidas.

Tive uma experiência de homestay inesquecível, pude conhecer o processo de plantação de arroz, ver as festas de fogos de artifício e vestir um quimono lindo. São exemplos de coisas que eu não teria oportunidade de fazer no Brasil.

Agradeço à Prefeitura de Fukuoka, à Fundação de Intercâmbio Internacional de Fukuoka, ao Fukuoka Kenjinkai do Brasil, à Universidade de Kyushu, aos meus professores, parentes e amigos, por todo o apoio que recebi. Obrigada a todos que me ajudaram nesse período da minha vida.

© 2010 Silvia Lumy Akioka

Brasileiros Província de Fukuoka Japão Nikkeis no Japão
Sobre esta série

Meus avós maternos deixaram sua terra natal Fukuoka, no Japão, em busca de uma vida melhor no Brasil. Assim como outros milhares de imigrantes, sacrificaram-se muito e devemos a eles nosso conforto e os valores transmitidos de geração em geração. É com muita gratidão, que deixo registrada nesta série a oportunidade que tive de morar como estudante em Fukuoka.

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About the Author

Silvia Lumy Akioka é sansei brasileira. Foi dekasegui aos 17 anos e em outra ocasião, bolsista na província de Fukuoka, quando publicou a série “O ano de uma brasileira no outro lado do mundo” - seu primeiro contato com este site. É admiradora da cultura japonesa e também gosta de escrever sobre outros temas em blogs. Esteve em Los Angeles como voluntária em 2012 e há 6 anos, é consultora oficial do Descubra Nikkei.

Atualizado em fevereiro de 2019

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