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Stephanie Ajifu, Shibucho do Ryukyukoku Matsuri Daiko LA—Reflete sobre a sua herança cultural okinawana

Stephanie Ajifu, Shibucho do Ryukyukoku Matsuri Daiko Los Angeles

Em 9 de março de 2024, o Descubra Nikkei irá apresentar “Yeisaa nu Chimu-Don-Don: Explorando a Identidade Cultural através dos Tambores de Okinawa”, um programa virtual multilíngue composto por tutoriais e conversas com membros de grupos contemporâneos de eisá de todo o mundo. (Eisá é uma dança folclórica tradicional okinawana, como também uma apresentação musical para homenagear o espírito dos ancestrais okinawanos.) 

O Ryukyukoku Matsuri Daiko Los Angeles (RMDLA) será um dos grupos participantes deste programa. O Descubra Nikkei conversou recentemente com Stephanie Ajifu, a atual Shibucho (líder da filial) desta organização. Tendo fortes laços com a cultura okinawana através da sua família e de vários grupos comunitários, Ajifu refletiu sobre as suas identidades nikkei e okinawana.


Raízes Okinawanas da Família

Stephanie e a sua família

Nascida e criada em Torrance [cidade no Condado de Los Angeles], na Califórnia, Stephanie Ajifu morou lá toda a sua vida. Ela agora frequenta o ensino superior na Cal Poly Pomona. Sendo os seus pais oriundos de Okinawa, ela se considera nipo-americana da segunda geração.

“Meu pai, Masanobu Ajifu, é de Kin-Cho, em Okinawa. Minha mãe, Nobuko Ajifu (nascida Shiraho), é de Hateruma, uma das ilhas no arquipélago de Yaeyama e a ilha habitada mais ao sul do Japão. A família do meu pai emigrou para o Havaí e a Califórnia, mas a família da minha mãe ainda mora em Okinawa”, explica Ajifu.

Ajifu mantém laços com os avós e outros membros da família em Okinawa. “Meus avós paternos faleceram antes de eu nascer. Do lado da minha mãe, o meu avô ainda mora na ilha de Hateruma, junto com os meus dois tios. Minha tia mora em Tóquio. Do lado do meu pai, a minha tia e o meu tio moram em Oahu, no Havaí.” Ela acrescenta: “Como eu sou filha única e a mais jovem da família, eu tento visitar Okinawa e passar tempo com a família todo verão, especialmente na época do Obon”.


Mantendo Viva a Cultura Okinawana na Família Ajifu

A família de Ajifu faz com que a cultura okinawana seja parte das suas vidas de formas diferentes. “Minha mãe faz pratos okinawanos em casa, e no nosso quintal cultivamos goya e hechima (esponja vegetal) ou nabera, que são vegetais tradicionais okinawanos”, observa Ajifu.

Na Nisei Parade (da esquerda: a sensei de dança de Okinawa, Keiko Yonamine; Stephanie; e a sua mãe Nobuko Ajifu)

“Minha família comemora o Obon todo mês de agosto, geralmente viajando para Okinawa, onde celebramos com a família e amigos. Durante a temporada do Obon, às vezes faço uma apresentação do Ryukyu buyo (dança) com a minha mãe. Minha prática do buyo e do taiko (tocar tambor), que são tradicionais de Okinawa, é um outra maneira de manter viva a cultura e a arte da minha família.”

Respondendo a uma pergunta sobre as suas habilidades linguísticas, ela diz: “Aprendi a falar japonês frequentando uma escola de japonês todos os sábados. Infelizmente, eu não sei falar Uchinaaguchi, a língua local de Okinawa. A Associação Americana de Okinawa (OAA) oferece aulas de Uchinaaguchi e eu gostaria de aprender um dia.”


O que a palavra “nikkei” significa para você? Você se identifica como nikkei?

“Para mim, nikkei se refere àqueles de ascendência japonesa e que continuam a preservar a sua cultura. Eu me considero nikkei porque me mantenho envolvida e compartilho ‘experiências japonesas’ ao continuar ativa na nossa comunidade. Por exemplo, no verão passado, tive a honra de fazer estágio no programa Estágios da Comunidade Nikkei (NCI), que a Kizuna oferece para estudantes universitários. Através do NCI, fiz estágio no Instituto Cultural Japonês de Gardena Valley (GVJCI) e assim tive contato com pessoas de todas as idades para ouvir as histórias das suas experiências na comunidade nikkei.” (Kizuna é uma organização comunitária sem fins lucrativos baseada em Little Tokyo, no centro de Los Angeles, e que oferece programas culturais para educar e capacitar jovens líderes da comunidade.)

Estágio da Kizuna NCI


Como a interação com a comunidade nikkei afetou você? O que você aprendeu com essas experiências?

“Aprendi que nós somos a próxima geração a fortalecer a comunidade nikkei e cabe a nós moldar a próxima geração de jovens. Através do programa de estágio da GVJCI, eu adquiri uma melhor compreensão da identidade nikkei, da comunidade nipo-americana e da nossa história. Eu aprendi mais sobre a história da nossa comunidade ao visitar o Museu Nacional Japonês Americano e o Monumento Go for Broke em Little Tokyo, os dois localizados em Los Angeles, como também quando visitei bairros japoneses em São Francisco e San Jose, e os seus lugares históricos e monumentos.”


Você se identifica como “okinawana”? Você se sente mais ligada a quais aspectos da cultura okinawana?

Stephanie dando apresentações de dança no estilo de Okinawa    

“Eu me identifico como okinawana porque esse é o meu sangue e a minha herança cultural”, Ajifu explica. “Eu me sinto inspirada pelo jeito acolhedor e amistoso do povo okinawano. Eles se esforçam para ser gentis com todas as pessoas, mesmo sem conhecê-las. Eles adoram conversar e ouvir as suas histórias. Tem uma expressão famosa, Ichariba chohoodee, que quer dizer “Ao se conhecerem, vocês são como irmão e irmã”. Na hora que os okinawanos conhecem você, eles te tratam como se você fosse família. Ichariba chohoodee também me inspira a ser afável e amistosa com os outros.”

“Outra expressão okinawana inspiradora é Nankurunaisa, que quer dizer ‘tudo vai ficar bem'. Em outras palavras, não fique todo estressado nem preocupado porque tudo vai acabar bem desde que você viva um dia de cada vez e dê valor às coisas que você tem nesse momento."

Como você tem participado na sua comunidade okinawana?

A primeira apresentação do Ryukyu Buyo (há 4 anos)

“Eu cresci trabalhando como voluntária em eventos da área por meio da Associação Okinawa da América (OAA) em Gardena [no Condado de Los Angeles]. Eu comecei a praticar Ryukyu buyo, a dança tradicional de Okinawa, quando tinha quatro anos. Quando eu estava com dez anos, dei início ao eisá, os tambores de Okinawa. Continuo praticando os dois até hoje, e pratico Ryukyu buyo com a minha mãe.”

Em 2023, Ajifu recebeu a Bolsa de Estudos Nanka Kenjinkai Engeikai para praticar Ryukyu buyo. Em 2021 ela viajou para Okinawa através do Junior Study Program para jovens adultos, patrocinado pelo governo.


Ryukyukoku Matsuri Daiko Los Angeles (RMDLA)

Por favor,  explica como é o Ryukyukoku Matsuri Daiko.

“Ryukyukoku Matsuri Daiko pode ser traduzido literalmente como 'Tambores do Festival do Reino de Ryukyu'. O Reino de Ryukyu é o nome antigo do que hoje é conhecida como a Província de Okinawa no Japão. Localizada a sudoeste da ilha principal do Japão e a nordeste de Taiwan, Ryukyu é composta por cerca de cinquenta ilhas, das quais Okinawa é a maior. Por causa da sua localização, a cultura e as tradições de Okinawa foram influenciadas não apenas pelo Japão, mas também pela China, Coreia e  o sudeste da Ásia. O Ryukyukoku Matsuri Daiko tem como base o eisá, a dança tradicional com tambores do festival de obon de Okinawa.

Ryukyukoku Matsuri Daiko, filial de Los Angeles


Quais são os estilos musicais e de apresentação do grupo?

“Os artistas dançam e tocam simultaneamente uma mistura empolgante da música tradicional e contemporânea de Okinawa e do Japão. O grupo se apresenta com vários tipos de tambores: o odaiko (tambor grande), que é mantido suspenso na frente do corpo através de longas faixas de pano roxo nos ombros e nas costas; o shime-daiko (tambor de mão “achatado” com dois lados); e o paranku (tambor de mão “achatado” com um lado). O RMD tornou popular uma forma mais contemporânea de eisá que incorpora movimentos mais robustos no estilo do caratê, que são diferentes do estilo de forma livre mais fluido do eisá tradicional.


Qual é a origem do grupo? Como foi formado?

“O Ryukyukoku Matsuri Daiko foi formado em Okinawa em 1982 para incentivar os jovens locais a participar da forma tradicional do festival de tambores chamado eisá. Desde a sua formação, o RMD criou diversas filiais em todo o mundo para disseminar o eisá onde quer que as raízes de Okinawa tenham sido fincadas. O grupo também tem filiais na ilha principal do Japão, na América do Sul e em vários estados americanos.

“A filial de Los Angeles do RMD foi criada em 1995 com a orientação e apoio financeiro da Geinobu (Divisão de Artes Culturais) da Associação Okinawa da América (OAA). Doreen Whiteley, Aiko Majikina e Yasukazu Takushi foram os fundadores. Aiko Majikina pediu permissão à sede em Okinawa para formar uma filial da Ryukyukoku Matsuri Daiko no exterior, e Los Angeles acabou se tornando o primeiro grupo no estrangeiro. Em 2025 vamos comemorar o nosso trigésimo aniversário.”


Como o RMD participa da comunidade em Los Angeles?

“Nós nos apresentamos em festivais e/ou eventos japoneses no Sul da Califórnia. Já nos apresentamos em lugares como The Grove e em eventos como Nisei Week Grand Parade, Taiko Gathering, Coronation Ball, o Festival das Cerejeiras em Monterey Park, Japan Expo Los Angeles e a Feira do Condado de Los Angeles. Representando o Dia do Japão, também nos apresentamos no Dodgers Stadium e no show de intervalo de um jogo de basquete dos Clippers. Em 2023, tivemos a honra de nos apresentar na Anime Expo em Los Angeles.”


Como o seu público reagiu às apresentações do RMDLA? Que impacto você acha que as suas apresentações têm tido na comunidade de Los Angeles?

“Em 2015, nós comemoramos o nosso vigésimo aniversário com uma apresentação do nosso show, Uchinaa Chimu Don Don, que pode ser traduzido como ‘o bater do coração de Okinawa’. Eu acho que isso reflete exatamente o que é o taiko/eisá okinawano. O bater dos tambores comunica o bater do coração da arte okinawana e mantém a cultura viva pelo mundo afora.

“Alguns dos membros do nosso grupo não são okinawanos. Eu gosto de pensar que eles se juntaram ao RMDLA porque se sentiram empolgados com o nosso estilo de tocar tambores, de dançar ao som da música okinawana, e de entoar os chamados e expressões okinawanas, os quais são conhecidos como heishi. Ao combinar esses três aspectos da performance okinawana, o nosso grupo pode compartilhar a riqueza da cultura okinawana com as comunidades nikkeis e de Los Angeles, e inspirar a próxima geração de jovens nikkeis a continuar as nossas tradições.”


Como a atual Shibucho (líder de filial) da RMDLA, como você interage com os membros para proporcionar orientação e liderança? O que você aprendeu na sua função?

“Eu me esforço para ter uma comunicação aberta e honesta com a nossa ‘família de taiko’. Eu tento praticar ichariba chohoodee quando recebo novos membros. A maioria dos membros tem entre dez e 18 anos. Eu aprendi que não importa a idade ou experiência, todo mundo pode ajudar a gente a aprender alguma coisa. Sejam eles os membros iniciantes ou os membros mais antigos do nosso grupo, a cada interação eu me vejo constantemente aprendendo e crescendo como pessoa.

“Somos todos amigos fora do eisá. Nós nos reunimos para comemorar datas festivas como a nossa festa anual de Natal, e nos divertimos com atividades em grupo, como sair para patinar no gelo e passar o dia na praia. Uma meta atual é a preparação para a nossa apresentação comemorando os nossos 30 anos, que está agendada para outubro de 2025.”

Stephanie interagindo com o grupo  


Qual foi o impacto do seu envolvimento com o eisá e o RMDLA na sua identidade e nos seus laços com a sua herança cultural?

Desempenho do Ryukyu Buyo no Dia de Apreço aos Idosos

“Ao me manter ativa na comunidade e nas artes, eu sinto uma ligação muito mais forte com as minhas raízes okinawanas, especialmente porque muitos dos meus parentes moram longe e só vejo eles uma vez por ano. Eu dou grande valor ao eisá porque ele me conecta à minha família.

“A minha visão do mundo teve um impacto positivo porque o meu envolvimento com o eisá despertou o meu interesse por outras culturas. Eu me sinto orgulhosa de poder apresentar e compartilhar a beleza da arte okinawana aqui no sul da Califórnia e espero continuar a fazer isso.”

 

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Sábado, 9 de março de 2024 • 20h00 (horário de Brasília) (ZOOM)

Venha se juntar a nós em uma conversa e sessão de perguntas e respostas com membros de grupos contemporâneos de eisáLisa Tamashiro Maumalanga (Chinagu Eisa Hawaii), Rentaro Suzuki (Ryukyukoku Matsuri Daiko, filial de Los Angeles), John Azama (Ryukyu Damashii), Cecilia Nué (Seiryu Eisa Kai) e Toshiyuki Yamauchi (Yuriki no Kizuna Eisá Daiko)—que irão explicar como o eisá os conecta à sua identidade e herança cultural. Depois do programa, ofereceremos um tutorial interativo para iniciantes e a oportunidade de conversar com membros dos vários grupos de eisá.

O programa principal será apresentado via Zoom com traduções simultâneas em inglês, espanhol e português. É necessário que você se inscreva.

Para mais detalhes >>

 

© 2024 Karen Kawaguchi

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About the Author

Karen Kawaguchi é uma escritora baseada em Nova York. Ela nasceu em Tóquio, filha de mãe japonesa e pai nissei de Seattle. O seu pai serviu no Serviço de Inteligência Militar do Exército dos EUA enquanto a sua família se encontrava encarcerada no [campo de concentração de] Minidoka [no estado de Idaho]. Karen e a sua família se mudaram para os EUA no final dos anos 50, morando a maior parte do tempo na área de Chicago. Em 1967, eles se mudaram para Okinawa, onde ela estudou na Kubasaki High School. Mais tarde, ela frequentou a Wesleyan University (no estado de Connecticut) e depois morou em Washington, Dallas e Seattle. Recentemente, ela se aposentou depois de trabalhar como editora de publicações educativas, entre as quais Heinemann, Pearson e outras editoras importantes. Ela atua como voluntária em organizações como a Literacy Partners (ensino de inglês como língua estrangeira para adultos) e gosta de visitar a Sociedade Japonesa, museus de arte e jardins botânicos. Ela se sente sortuda de poder tirar grande proveito das três culturas da sua vida: japonesa, americana e nipo-americana.  

Atualizado em junho de 2022

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